terça-feira, 12 de abril de 2011

O INFERNO DE DANTAS

Normalmente me encontro sentado em minha cama, não de uma maneira cômoda, pois cada vez mais vem sendo difícil encontrar uma posição confortável que dure mais de cinco minutos. Abro meus e-mails, vejo como anda a minha vidinha virtual e não a nada de novo é praticamente como se eu não existisse a um bom tempo. Não sei que tipo sentimento isso me traz ou o quanto me incomoda apenas sei que é bem melhor do que se eu tivesse um monte de recadinhos de quem eu não quisesse responder.
Infelizmente ainda está claro o que me deixa nervoso em saber que ainda vou ter que esperar apreensivamente a noite chegar como se ela estivesse vindo sem presa, propositalmente lerda me punindo com toda aquela luz ofuscante que ilumina todo o meu quarto inerte. Tentando me livrar dessa situação muitas vezes me distraio com um filme antigo, com o rádio ligado ou um livro qualquer, o que geralmente não é o suficiente para vencer essa burlesca queda de braços. E afinal de contas também tenho meus afazeres diários.
O que me deixa mais desapontado em ter que sair durante o dia é que encontro muitas pessoas pelo caminho. Tem gente que faz questão de sair cumprimentando a todos mesmo não tendo nenhuma afinidade sequer, eu pelo contrario faço questão de passar sempre como despercebido, sem ser notado por olhares alheios.
Não sei por quais motivos me tornei o que sou. Sempre vivi no mesmo bairro, na mesma casa e nunca fui de ser o mais popular, tive muitas oportunidades para isso mas algo sempre me puxava para o lado contrario involuntariamente, talvez fosse pelo fato de ter sempre minha opinião inabalável (o que só me fazia um cabeça dura) ou pelo meu sotaque que não tinha com o que ser comparado, mas isso me agradava pois em tempo que todo mundo era igual querendo ser diferentes artificialmente isso me trazia uma certa originalidade.
Meus afazeres diários era praticamente ficar atrás de um balcão atendendo aos mais diversos tipos de gente com os mais diversos problemas que eu sinceramente não me importava. Mesmo assim desempenhava bem o meu serviço, nunca fui desonesto, arrogante ou mentiroso, o que me fazia chegar em casa muitas vezes querendo explodir minha cabeça e levar tudo comigo como aqueles kamikazes que apareciam nos jornais.
Em todos esses anos em que cheguei até aqui conheci muita gente mas poucas me fazem ter um contentamento verdadeiro, muitas ainda tenho que conversar sobre coisas pela qual não tenho o menor interesse. Por isso constantemente prefiro falar com as paredes do que ter uma companhia qualquer, o que me levou a ter um numero irrisório de amigos. Observando mais profundamente, praticamente um terço da minha vida já foi para o saco o que vem me deixando sem muita paciência para papos fúteis e de ficar rodopiando sem direção.
Até que depois de muita angústia e reflexões a tão esperada noite chega, não sei ao certo o porque da minha apreensividade para esse momento mas creio que seja pelo fato de ficar mais sossegado em saber que o dia já está prestes a acabar e que sobrevivi a mais uma árdua rotina de minhas quimeras.
Seria um hipócrita se dissesse que não tenho momentos gratificantes, gosto de me lembrar dos passeios no parque ibirapuera, de um vinho aberto no entardecer, das visitas no zoológico, daquele encontro no cinema, das guloseimas de um fast-foud mexicano, dos shows das minhas bandas prediletas, das risadas ou da emoção de um teatro, tudo isso me lembra nostalgicamente das pessoas que passaram em vida como se fossem garçons de um buteco imundo. Não vou negar que algumas dessas pessoas me deixaram saudades mesmo não conseguindo busca-las na memória, talvez até se passassem por mim mal as reconheceriam (o que provavelmente já deve ter acontecido com certa fraquencia).
Vivo constantemente em sincronia pensando no futuro e no passado, revivendo o que já fiz e no que faria se o mesmo acontecimento se repetisse, no que poderia mudar? no que eu sou? e no irei me transformar? E não chego a nenhuma conclusão, acho que nunca ninguém esteve a frente de nada, tudo é fruto de uma mera fantasia com um único final revelador que só se encontra sozinho com as mãos vazias e a uns sete palmos de profundidade do solo antes que os vermes nos encontre. Refletindo burlescamente sobre isso me considero como o mais idiota de todos em saber que o meu maior desejo pode ser atendido com apenas algumas palavras a pessoa certa que por puro orgulho jamais as consigo dizer, me auto-sacrificando a viver na eterna e acinzentada dúvida.
Graças a Deus não sou de ficar me culpando, pois tenho a noção de que quase sempre eu tenho que resolver tudo sozinho, sendo apenas eu, o nada como orientador e o infinito como rumo. Não é toa se notar minhas vacilações, meus erros são as coisas mais notórias em mim como se tivesse uma tatuagem ou um sinal de nascença em minha face indicando todos meus atos errôneos e até hoje não sei por que ainda não procurei oculta-los. Realmente devo muito apreciar tudo que seja transparente, o difícil é saber se isso é ou não uma virtude. Tampouco sou de me exaltar, de demonstrar minhas vitórias, minhas conquistas, meu amor, minha benevolência pois nada disso me agrada, prefiro muitas vezes receber uma critica do que um elogio. Com a critica refletimos e sabemos onde deve e se realmente deve ocorrer alguma mudança já com o elogio quase sempre vindo daqueles amigos padres nunca sabemos se é algo verdadeiro e sempre acaba nos deixando no comodismo.
Hoje o cansaço me pegou de jeito. Me lançou pelas quatro paredes do meu quarto quebrando todos os meus ossos, sangrando-me com seu punhal e espalhando minha massa cefálica pelo tapete. Estranhamente me sinto feliz por isso, não pela dor sofrida da solidão, mas por não ter que me culpar em não ter ninguém para dividir minhas angustias, por não querer ter ninguém ao meu lado, por não querer sair de casa, por não me reconhecer no espelho, por não atender o telefone, por conseguir xingar e esmurrar com ar de contentamento minha própria sombra e não precisar chorar minutos depois. Estou demasiadamente cansado para pensar ou medir qualquer conseqüência, hoje eu só quero uma garrafa de whisky e dormir com a televisão ligada. Hoje eu só quero fingir que amanhã não vai ser igual a todos os amanhãs, quero me enganar com o álcool, uma fotografia, uma velha carta e um sofá e isso pra mim ainda é demais, não quero dividir nada pois o nada é tudo que tenho para oferecer. Se muitos caminhos levam para o mesmo lugar então por que temos tanta duvida de que caminho seguir? Tudo é sempre igual! Então não me culpe e deixe-me enganar-me em paz.
A revolta é o meu contentamento e a minha depressão, meu alimento e minha fome, meu corpo e minha alma, minha conquista e minha desgraça. Quanto mais tento fugir mais me revolto, estar vivo já é revoltante, saber que vai morrer também.
Mas a pior peça que a vida pode pregar em alguém são os desapontamentos. Não conto quantas vezes depositei em alguém todas as minhas fichas. Construí minha vida em um único pilar. Hoje eu sei que a vida necessita de muitos pilares, mas todos que encontro são fracos e ocos, ou seja, venho levando a vida como um equilibrista a muito tempo.
Já ouvi dizer que pra tudo existe uma solução é uma pena que muitas vezes nenhuma delas me agrada. É até estranho dizer que na imensa maioria das vezes sou tido por todos como um bom rapaz, deve ser pelo fato de sempre carregar tudo que sinto apenas comigo sem dividi-las ou deixar transparecer, de ser sozinho em minhas ilusões muitas vezes pessimistas mas que me fazem ficar em pé mesmo sem descobrir de que vale estar de pé sem ter um rumo a seguir e escrever sem dar frutos e para ninguém ler.
Se alguém me perguntar o que mais gosto de fazer creio que ela ficará sem uma resposta verídica. Até posso falar alguma coisa contemporânea só para não passar em branco mas a verdade é que venho me enjoando de tudo com uma velocidade muito grande, relacionamentos não duram mais de um ou dois meses, programas não passam de uma hora, revistas não passam da quinta pagina, conversas não passam de quinze minutos, musicas de trinta segundos e já quero mudar, arriscar em algo novo que nunca encontro, o que me faz voltar de novo a estaca zero.
Quero mudar alguma coisa, melhor dizendo quero saber o que mudar e como mudar mas o máximo que eu posso fazer é trocar os moveis de lugar, acender uma vela e comparar a cera que a derrete com as lagrimas que já marcaram o meu rosto muitas vezes.
A minha janela não tem uma paisagem muito bonita, dela eu só vejo inúmeras caixas-d´agua, telhas corroídas pelo tempo, fios cobertos por sujeiras e algumas montanhas que eu não faço noção de onde pertencem por isso não a observo com freqüência mesmo ficando constantemente aberta ela somente dá passagem para os insetos que teimam em me fazer companhia e sugar um pouco daquilo que não percebo passar em minhas veias. Eu até estou começando a cativá-los pois mesmo os expulsando de varias formas, eles parecem ser os únicos seres que ainda insistem em estar perto de mim me fazendo sentir como se ainda tivesse alguma coisa para oferecer. E vós ofereço tudo o que não deves ser.
Na maioria das vezes não gosto de mim mesmo, gostar de si mesmo dá muito trabalho, exige uma grande concentração e análise de atos e eu só quero saber de resultados, do que os esforços resultaram e não encontro respostas para nada então prefiro me considerar uma interrogação a pendurar um esboço meu na sala de estar ou na entrada principal da casa.
Um cigarro, as vezes acho que devia começar a fumar. O fumo enegrece as paredes, modifica o aroma dos ambientes e do ar além de trazer alguma concentração. Mas sou extremista demais no que diz respeito a realidade, gosto de passar por todos os momentos sentindo ao máximo suas sensações sejam elas qual for. Se um dia puder escolher um modo de morrer entre o doloroso e um sem dor sem duvida escolheria o mais doloroso possível só para poder ter até o ultimo segundo a sensação de como é estar vivo.
Fazia tempo que não escrevia tanto e nunca me senti tão inútil. E o pior, ainda é saber que insisto em dar soco em ponta de faca.

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